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[mais que impressões]


Falar de religião é um assunto que prende muito minha atenção, eu esqueço do mundo.

Quando eu tinha 4 anos de idade minha família passava por dificuldades relacionadas à alcoolismo, tabagismo, violência e etc. Eu não lembro de muita coisa de quando eu tinha 4 anos de idade, na verdade nem de 6 anos. As poucas faíscas de memória que vem à minha mente quando tento são imagens desagradáveis de porres (dos outros), agressões (não sei em que intensidade apenas uma ocasião faz-se imagem na minha cabeça).

Uma religião que surgiu em meio a essas dificuldades e nos ajudou a “superá-las” tornou-se o novo xodó da casa. Pronto! De repente aquela família que parecia destruída aparece mais forte do que muitas famílias próximas e testemunhas das dificuldades.

Ir para a igreja era um momento feliz para meus pais, e isso é totalmente compreensível, vamos combinar. Esse momento só me era um pouco constrangedor porque os garotos riam e atribuíam apelidos chatinhos quando me viam de roupinha social e gravatinha. Eu ruborizava sempre que não conseguia me esconder dentro daqueles carros dos ”irmãos” que iam nos pegar em casa para ir pra igreja. Quando os irmãos não podiam ir, era um sofrimento eterno caminhar na rua até a igreja, vestido daquela forma.

É um pormenor, mas acredite se quiser, até hoje me sinto mal quando preciso andar de roupa social na rua. Foi uma coisa que ficou.

Nem na igreja, nem na escola e nem em lugar nenhum fazia amigos. Era um eterno inimigo silencioso de todos os meninos. Os poucos contatos que eu fazia com eles me resultavam em pichações nas cadeiras da escola, nas lousas e nas paredes. Eu não tinha coragem de dizer em casa sobre aquelas pichações, minha impressão era de que quem seria castigado por isso seria eu.

A maioria dos contatos que eu tinha com crianças eram meninas. Uma vez meu pai me chamou pra primeira conversa-trauma da minha vida e me pediu pra parar de andar com as meninas por motivos óbvios.

Todo o conteúdo daquela conversa foi sempre doloroso pra mim. Eu não queria ser uma menina e nem tão pouco pegar o jeito delas. Pronto! Agora eu me vi sozinho, desde cedo, sem o prazer da companhia dos meninos e muito menos das meninas.

O que me fazia não querer amizade com os meninos, desde sempre era a atração que eu sentia por pessoas do mesmo sexo e aquilo na minha cabeça era algo completamente desconhecido, e por auto-proteção, eu tinha medo de que isso ficasse estampado em qualquer contato com as pessoas e por isso me fechava pra eles.

Minhas únicas amizades eram da igreja, e dessas, mais ainda eu sentia medo da percepção de qualquer sinal daquela coisa desconhecida e cheia de estigmas.


[CONTINUAREI]

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